Um ato verbal de indignação
Não aconselhado à leitura
pelos isentões
que na fraca neutralidade
se escondem da vil realidade
como covardes canastrões
A verdade é que nesta terra
onde cantavam sabiás
O sangue encharca o solo
E a vida do pobre valor não tem mais
Na terra da festa e do carnaval
perecem etnias e povos
desde o tempo de Cabral
Onde o fel pelo boca desliza
ao pronunciar nos jantares a mesa
que a mãe da periferia
mãe não devia ser
Já que dinheiro não tem
para sua cria manter
e quem mora na rua,
está ali por querer
Berram sem hesitação
que a morte é a cura do bandido
clamando por armas para se defender
enquanto espancam as esposas
sem ninguém ver
não se importando com a idade
da criança alvejada no chão
Em suas plácidas residências
discursam com eloquência
sobre como a mulher violada
o fruto do estupro deve conceber
falando do tamanho de saias
e dos horários na rua gastados
justificando aquilo tudo ela merecer
Mas a maior violência nacionalizada
É o discurso cruel estrutural
na qual a pele negra se tornou passaporte
para uma morte eminente,
um perigo real frente a PM
onde ainda se defende o direito de ser gente
ser respeitado como igual
Sou mulher e branca
De outros males da vida já provei
sou vítima do machismo e violência
porém, tenho consciência
que jamais saberei como se sentem
aqueles que pelo ódio a sua existência
são covardemente atacados
Só sei que como filha das artes
emissária das palavras que o sou
me resta pelo verbo me expressar
que em um Brasil racista como esse
de nada vai adiantar
só o preconceito não perpetuar
é preciso tomar partido, é preciso falar
Bota tua voz pra fora, grita se preciso for
contra qualquer ato de racismo
se for expectador
aqueles que o mal acompanham
e em silêncio permanecem sem agir
coniventes com a dor do outro se tornam
ao não reagir
Presos a uma manada que os engole
os que silêncio permanecem vão sendo levados
a verdade oculta dos condomínios
nas telas digitais e na fé sem lados
que nosso país é um matadouro
com um genocídio da população negra em andamento
e tem gente aplaudindo isso de pé, nesse momento.