quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Andrômeda Acorrentada

Atada ao quebrar das ondas, 
sacrificada  a fúria de Cetus
contempla teu destino inexorável, 
Oh filha de Cefeu!


Rigorosa é tua punição, princesa da Etiópia 
pela audácia de tua rainha mãe, agora choras
Este é o designo por ser comparada as filhas de Nereu, 
Para Poseidon acalmar, acorrentada aos mares será. 


Perecerás nas lágrimas de Cassiopéia, 
e na espuma do oceano que toca as rochas
devorada por esta fera, cessará teu riso e pranto
Para teu reino retomar a paz, a morte encontrarás


Mas através das nuvens, a voar no horizonte
surge infante criatura alada, com um jovem a galopar
E vendo a virgem sucumbir nos confins do oceano
Perseu, ergue tua mão e batalha para a libertar


Poderosa era a magia de sua arma recém conquistada
E obre o olhar da Medusa derrotada
O monstro marinho em pedra se fez
E com um golpe certeiro por tua espada, o herói triunfou

Livre do sacrifício das ondas, se regozijou 
E a donzela pelo filho de Zeus se encantou
Apaixonados, enfrentaram a teu antigo noivo
Para defender o seu novo amor, 


Petrificado, cai Phineus e o casal uniu-se enfim, 
E quando a morte a princesa veio a buscar
Por Atena, levada as estrelas ela se foi ternamente
E no firmamento estrelado, a Perseu reencontrou. 








segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

L'appétit vient en mangeant.

Queria eu, que estes fossem os últimos versos que escrevo
com você em minha mente, em minha inspiração
mas lamentavelmente, esta versão fraca de mim mesma
ainda não consegue, não sabe como exatamente, te anular

Assim, ainda fraquejando e protelando, escrevo...
talvez numa esperança tola que as minhas palavras te alcancem
mesmo que no fundo eu saiba, que  tanto faz
afinal, só era um papo interessante e nada mais


Então, ainda escrava das vontades que guiam 
as mãos que tocam as letras e finalizam essas frases tolas
Erroneamente me exponho em momento e desatino
sobre a noite mal dormida que há de começar: I miss you...




domingo, 27 de dezembro de 2015

Essere a portata di mano

Não me pressione, pois eu vivo contemplando o abismo e domando a tempestade. 
Não farei nada fora do tempo certo, seguirei as correntes do momento.
Um passo de cada vez, é isto de que preciso. 
Ainda busco minhas flores e meus agoras e amanhãs, mas há um tempo certo para isto. 

Cativa-me e, talvez, possamos olhar na mesma direção em algum momento
Se partes, não me esperes. Não tenho vocação para seguir em vão
se me chamas, com zelo e alento, talvez eu te busque, talvez não
Sou imensidão, chama e rompante: desolação e fúria, riso e pranto

Toca-me com sinceridade e vigor, sem receio ou culpa
só venha e fale, fujas e acabará por hora: me encontre 
Nós, versados em corpos que nunca nos pertenceram 
seguimos atados, solitários, cada qual em lado. Ainda separados 




quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Sobre os umbrais do ano que termina

Toma tuas vestes que já não usas, que não cabem
e encontre um novo destino à elas
faça o mesmo aos sapatos gastos e deteriorados
de tantos passos dados em 365 dias passados
desfaça-se do que não cabe, do que não mais te agrada


Organiza teus livros, limpe-os, sinta-os,
reposicione, reorganize: a estante, a mesa, o coração
Quantas histórias belas deixou de aproveitar
porque estava escravo de protelações e do ócio
toma aquele café forte, levante da cama que lhe suga
dispa-se da preguiça que domine: é momento de começar


Tire a poeira da quarto, da sala, da mente
metas: anote-as, refaça-as, anule-as que já foram
já não passou de hora de terminar algo?
reflita sobre o que passou, é experiência
o agora, e os amanhãs que estão para vir
onde está aquela canção rabiscada, esperando a conclusão?


Venha, sente ao meu lado, toma uma gole
o café foi recém passado, a mesa logo será posta
A fartura de agora é a premissa da falta que chegará?
Ou a dúvida hoje é só um caminho para uma resolução
Não, obrigado, não aceito um trago.
Sirva-me uma porção pequena de esperança

Porque o ano está a acabar...



segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

So far away

Lá adiante ou passos atrás

para além da névoa do que se passou
onde já não posso tocar com as mãos 
onde meus olhos já não encontram refúgio
perdeu-se uma parte de mim, ou algo assim


Lá, além do que posso alcançar

foi a lembrança, o topor
o engano e o encanto, calcificados
no concreto da frieza e rejeição
onde o vento irá incidir e um dia, virar pó


Lá, tão longe

foi-se o maculado momento, do erro estendido
do instante vivido, a todos os desejados
condensado, impresso sobre a poeira contra o solado
inerte, ainda desolado, mas longe, inalcançado


Lá, somente lá

em algum ponto entre o errado e o certo
entre o que foi ansiado e desprezado
sigo olhando a tela vazia e esperando, 
ainda esperando, o que já não será enviado.







domingo, 13 de dezembro de 2015

Incandescente Opus I

Nos confins do universo
as fadas comungam sortilégios e gracejos
sob a luz de milhões de estrelas. cantam
ao céu, ao ar, ao sangue que pulsa 
ao oceano astral onde a melodia se propaga 

Sobre o silêncio sepulcral 
na colisão do astro que morre
viajantes do éter reúnem-se 
nessa fogueira em torno de um sol
dançando anônimos os sagrados perdidos

Passageiros aprisionados sem concessões
Voltem seus olhos para de trás nebulosa 
traidora audaciosa, viciante encantadora
Viajantes que tocam e choram nesse universo
confinado entre os os olhos de um certo deus ancião



quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Reticências

Um ponto solto no papel é tão somente um ponto, 
Ou uma perspectiva de nova frase?
E quando articula-se a outros dois, torna-se o que?
possibilidade indefinida; 

Entre vírgulas e vírgulas, 
vamos preenchendo parágrafos a esmo
que em conjunto, formam algo, atado
unido por pontuações e verbos, definidos

Contudo, ainda restam aqueles três pontos
no final de uma frase interrompida
e só resta apagá-los, anulá-los
para encontrar a resolução do meu próprio verbo amar.




quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

A gente vai se acostumando

A gente vai se acostumando:

Aos dias irem se passando e o celular não tocar
nenhuma mensagem ou  ninguém te procurar
As horas correrem e você desejar dormir
e não conseguir, e tentar e tentar
e daqui a pouco, já precisa levantar


Acostumando-se a café morno, refeição sozinha
A encher a tarde de coisas, para não pensar
e acordar e ver, que ainda não sente o porquê
O copo que não dá vontade de encher
A cabeça que não dá vontade de pensar


Acostumar-se a olhar no espelho e ver-se
e não gostar do que vê, ai para de olhar tanto
qualquer roupa serve, qualquer coisa serve
Quando nem mais a  música preenche o vazio
não há exatas razões para nada.. é só deixar pra la


Sem bons dias e boas noites
flores que jamais chegaram, sorriso fechado
vai, fica, volta, começa e termina
pará.. olha pro nada... e desaba
retorna, tentar e vai: sem sal, sem graça,, sem vida


domingo, 29 de novembro de 2015

Enfeitiçada


É preciso cantar
revelar a cantiga não mais entoada
sobre um amor não concretizado
perdido e amaldiçoado no tempo
ainda emoldurada nos carvalhos do passado


Sob o véu,
de gazela a donzela
a vestal corre pela mata
encantada e fadada
distante dos olhos afoitos
A seguir solitária até o findar dos dias


Tida como presa,
flechada em uma caçada
Ao cavaleiro errante afeiçoado 
a batalhas prazeres 
revelou-se tua dúbia face


Ao falastrão sanguinário, 
consternado por beleza e magia
caiu-se apaixonado, o ímpio desonrado
e tomado de encanto e afeição, 
à ela entregou teu coração de imediato


Mas as árvores gargalharam
e o vento soprou vigorosamente
tamanha a audácia do guerreiro
e em meio a tempestade subjugado
Esgueirou-se a donzela a escapar











terça-feira, 24 de novembro de 2015

Por de trás da tela, no riso perdido

Contemplavam-se enamorados
jamais juntos, jamais unidos
cheios de receios e dúvidas
jamais tocando-se ternamente
como desejavam se tocar 

Abraços guardados, carícias censuradas
Jamais tão próximos quanto gostariam
E o calor foi se perdendo...
e as risadas foram virando lembranças
e os beijos, hesitação

Perde-se o momento, o alento
O que outro propunha, amedrontava-o
não sentindo-se preparado, livre, feliz
deixou estar, deixou apagar e tudo virou
Canção e verso no passado a repousar


"Se tu m'ami, se sospiri, Sol per me..."

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Respinto

Meu coração palpita com pausas
não mais o pulsar preenche a todo compasso 
ele vacila, refuga, hesita
sinto-me fraquejar, a vontade de me apaixonar
de novo

O pouco querer que cultivei, rejeitado foi
e tamanha foi a ofensa a ponto de ser proposta
ser sua companheira pela metade
 e não me contento
com pouco 

Já te disse uma vez, não sou um momento
um divertimento aleatório, 
não acordo, me levanto e mantenho
para outro alguém me diminuir e desrespeitar
outra vez

E quando o silêncio fala e a solidão chama
fecho as portas entreabertas e apago esses versos
Pois quando o conflito e a indecisão imperam
Fito o vazio, encho a taça, acendo um incenso e só, 
espero


terça-feira, 17 de novembro de 2015

No final da madrugada

Não te peço que esteja o tempo todo aqui, fisicamente
mas que demonstre o seu querer, o seu se importar
é engraçado, quando ficas com raiva porque estou chateada
mas suas ações só me conduzem para longe de você

Me engana, busca outros flertes
se esconde em silêncios e ambiguidades
jamais decidido, jamais seguro
evitando-me como se eu não fosse nada para ti.

Se tua escolha é ir atrás, de outras e outras
E me brindar com o vazio e nada mais
Saiba que eu também sei desaparecer
e agora, sinceramente, não sinto que há porque voltar

Então, na mesma proporção que me afasta de você
eu te afasto agora, com a mesma consideração que demonstras
quando foges de mim, mente e me esnoba
você não merece um terço do querer que eu possa ter por você.

Afinal, se só me buscas quando sente teu dia chato
e quer alguém eventualmente em seu leito,
saiba que eu desejo um pouco mais de tudo na vida
e não cresci para ser tratada como só um momento de desejo

domingo, 15 de novembro de 2015

Passo a passo

Sou tal como me vês
Fúria e tempestade
Calmaria e melancolia
mescla inconstante de sentimento
e restrição

Enganada e novamente,
manipulada
quebram-se as correntes, 
vertem-se céus em meu rosto
e segue-se a caminhada

Sob o espelho,
rosto molhado
face cansada
Maquiagem borrada 
cabelo desfeito

Sou tal como me sentes
frustração e anseio
medo e designação
na noite que amanhece
sozinha plenamente
emerjo 




terça-feira, 10 de novembro de 2015

Sobre seriedade e bobeiras aleatórias.

Eu sou esquisita. Isso é um fato irrefutável.

Ainda bem que hoje em dia, ser esquisito is the new black: é algo como ser estiloso
Não me sinto mais tão ferrada, como há anos atrás

Me sinto mais a vontade entre livros e bichos do que entre multidões. Me olho no espelho com um milhão de roupas e tem horas, que só queria esconder o cabelo num boné e colocar a camiseta mais ferrada que achar. Outros, ponho corselet, meia calça, salto e passo um tempão me maquiando: e ainda posso não me sentir bem. Não sei seduzir, não sei bancar a femme fatale. Muito menos entendo aqueles ditos joguinhos femininos de conquista: da um gelo nele, trata mal que ele te valoriza.. Não, não tem sentido para mim. 

Prefiro falar sobre comida e música, do que sobre política. Mas posso dissertar sobre as estrelas, o universo ou fazer uma poesia sobre a sociedade atual, se me der na telha.

Sei recitar trechos e falas de personagens de filmes, games e revisitinhas em quadrinhos, Choro que nem uma manteiga derretida quando um personagem de uma história morre. Sou altamente viciada em pelo menos uns 7 estilos musicais diferentes e não aguento encarar um trecho num ônibus sem fones de ouvido.. Danço que nem um esquilo de desenho animado, toda desengonçada e isso não me impede de dançar. Canto bem, de vez em quando: a maior parte do tempo to procurando o tom certo XD

Tem dias, que posso ficar horas trocando mensagens idiotas só para conversar com alguém. E acredite, se eu cultivo esse hábito com você, é porque eu gosto MUITO da sua pessoa. Vivo fazendo uma dezena de coisas ao mesmo tempo e ocupando meus dias demais.. Para uma hora, me sentir cansada e sozinha e deitar sem querer pensar em nada. 

 Tenho um lado tímida e sinto dificuldade de me relacionar com pessoas que não conheço. Fico sem graça com facilidade. Gosto de carinho na cabeça que nem criança. E se me mandar mensagens de bom dia e boa noite, eu fico encantada que nem uma idiota. Fico triste quando sinto saudades de alguém e não posso ver essa pessoa..

Sou estranha, esquisita, levemente nerd e mulher
e acho que todas nós, temos um pouquinho disso
em outros âmbitos, dimensões e faces...
Mas sabe de algo: eu gosto disso, gosto demais
e gostar de si mesmo.. é tão bom, 
que nem Lasanha e Sorvete
Futebol e cerveja 
Um beijo e um abraço com você ;* 


Boa noite e boa semana a todos!




domingo, 1 de novembro de 2015

I was lost, on my own

"Take me away
Bury me in the sand
cause after all these years I am still the same
a sad and bitter man"


Por um momento em que o único sentimento unilateral, 
seja um pleno amor por mim mesma...
Onde ausências sejam sentidas igualmente em todas as partes
e a presença seja mais que palavra... tenha calor e muitos agoras...


Ensiferum - Lost in Despair

sábado, 31 de outubro de 2015

Aos poetas e à poesia

Hoje a poeta não versa, não casa rimas e contrapontos. 
Hoje a poeta não poetiza, enfeitiça ou enaltece.
Hoje a poeta fala da sua força, do que nasce de sua inspiração e brincando com as palavras. 

Falarei dos vários poetas, heróis silenciosos de uma realidade que se autodestrói. Daqueles que vêm linhas invisíveis a serem preenchidas no firmamento encantado.  Trechos que se amam e encontram na mente de quem escreve para si e ao mesmo tempo, à todos. 

Falemos dos poetas, que eventualmente perdem-se no corredor das suas mentes ao bailar com sensações e verbos. Dos que conjugam o eu, o seu e o nosso. Harmonizando e jogando com o que pensamentos estar escrito e o que oculta-se nas entrelinhas. 

Falemos da poesia, que nutre e sacia, que nos une e embala. Porque enquanto encontrares um lugar seguro e aconchegante no corpo de um poema ou na estrofe que acabas de ler, outro em alguma parte qualquer também encontra. E assim permanente nos mantemos, nos encontrando num espaço real, criado em nossas mentes e compartilhado em nossos sonhos de leitura. 

E aqui, fica a poeta a refletir. Será que fora dessas linhas sou realmente real? ou só existo porque consigo passar ao papel o que nasce inconstantemente em mim?

Afinal, é o poeta que compõe a poesia ou ela que o conduz?
Nascemos e vivemos hoje pelo poema e nele, faremos morada e porto seguro. 
Aos poetas e aos leitores. Bem vindos ao lar. 



quarta-feira, 28 de outubro de 2015

As palavras que não mais digo

Certos versos que calo
muito falam do que guardo
do que foi silenciado
do que não foi perpetuado

E na profundidade do eu,
no silêncio frio e resguardado
Emerge ingrata quimera
que vilmente com fel macula 

Sob canções e lembranças 
muda, em palavras, sigo
negada a vontade do riso
contida a vaidade perene

Neste ciclo de frieza
e contestação somente
olho e não sei, não arrisco
não tenho mais certeza

Fechada sob esse véu
atada tal como concha
espreito e reflito, hesito
enfim, só persisto só
e seguindo.




quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Intenso e subalterno

Dentro de mim, dois dragões dançam
e com essa valsa insolente e contínua, 
vão me arrastando, ludibriando
minhas duas faces, incessantes 
complementares

Dentro de mim, dois dragões lutam 
e se enlaçam
nesse meu coração que pulsa um pouco desordenado
numa cadência que já não rejo dominantemente
tamanha e enraizada está essa confusão 
do medo, do receio, da angústia

Dentro de mim, meus dragões me chamam
as metades desse todo, eventualmente 
multifacetado, um prisma perolado
a criança sem confiança
a mulher ainda em firmação
o pulso que anseia a deserção

A jovem que dança dentro de mim, 
sob toda essa intemperança
clama descanso ao espírito,
mais do sorriso equilibrado
e uma breve taça de moderação: 
hora do brinde aos meus dragões 

I'm so tired 


quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Não sabemos por que

Falta-nos certeza
do pousar da borboleta
ao dente-de-leão que fragmenta-se
do entardecer que vira noite e a perder-se em breu
quando acordamos e vencemos a semana, o dia, a hora 
ao confrontar o espelho e não conciliar-se com o que se vê
Falta-se nos certeza e afogando-nos em dúvidas, seguimos ásperos
já não aspirarmos as flores, por temer as abelhas e nos privamos dos perfumes
e assim, não completamente, sem entrega, sem paixão, sem decisão: vamos vivendo em vão...




sábado, 17 de outubro de 2015

Fogo fátuo

O amor não é um pássaro rebelde que nada pode domar.
Só uma ilusão criada de luzes e cores chamativas
Bem vindo ao espetáculo do convencionamento lateral
ponham suas máscaras e prepare-se
os pavões da arrogância  estão por toda parte a te assolar

"L'oiseau que tu croyais surprendre
Battit de l'aile et s'envola"

Não há mais porque perguntar-se
Quando o amarei, se serei correspondido
Melhor perguntar, porque o amar hoje ou amanhã
Talvez nunca, eu não sei, só não mais
Só sei que penso: proteja-se, a nada te levarás!

"Nella tua fredda stanza
Guardi le stelle
Che tremano d'amore
E di speranza"

No teatro apotéotico dessa nossa contemporâneidade
ao passo do enganador ao enganador
levanto e chamo:  lena e coraggio!!
É dia de deixar e luto e reduto
Hoje, não me chames, não me iludas


"Ah! Libiam, amor, fra' calici più caldi baci avrà?"
Não obrigada, passo. 







quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Reporte estas linhas

Na noite que vai alcançando seu ápice
na semana que vai convertendo-se 
em horas arrastadas, inúteis
colido com a página branca,
limpa e insólita

e vem surgindo...
tal ânsia involuntária, 
o revirar de sensações estranhas
vertendo-se a ansiedade revolta 
do não escrever ou padecer no ócio

salvar-me do conflito indecoroso 
do verso não começado
da revolta perceptiva em torno 
do parágrafo incompleto
nesse diálogo mudo e imperativo, 

Escrever para sentir,
onde já não me alcançam mais
escrever para salvar-me
do que me fere pontualmente
no plano irreal
do nada dizer e tudo emergir

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Je suis attiré par vous

Ternamente chamo seu nome
embevecida no meu reduto mental,
canto em poesia, essa minha prece 
tecida em teus lábios

Envolta no balsamo refinado
em teu toque
me refugio na lembrança sutil
dos seus braços

Assim, componho brevemente,
esperando que faça da minha pele tua tela
tracejando e rascunhando esse afeto
com o dedilhar delicado que aguardo

No desejo decantado na espera que conservas
Essa atração cujo contorno esta a ser esboçado
nas confissões inacabadas não finalizadas
daquela que aqui escreve, enamorada



quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Brevemente envolvida

Ressentida,
Falarás pelo seu olhar
e na ausência de palavras, 
e nos gestos contidos e expressos
Não serás ouvida, permanecerás contida

Silenciosa,
Tentarás alcançar
sussurrando ao vento que lhe conte, 
o quanto queria que o outro, viesse até si
Ainda sim, não fosses acolhida

Solitária, 
Atravesso outubro rubro, num lar calado
desnuda nesse leito parado
Introvertida, abstida, um tanto quanto pervertida 
certamente, ávida e agora, Assentida, 

Desnecessariamente,
apaixonada
ou  meramente, talvez
encantada 
mas jamais em essência,
submetida, 
ou mesmo, nem um tanto
diminuída
Plena e Nítida
poética e 
viva. 










domingo, 4 de outubro de 2015

A distância entre um par

Dizem que a menor distância possível entre dois pontos é um reta. 
Lógica interessante essa, não?
E a menor distância entre duas pessoas? acho que a resposta básica para essa questão está contida em uma única palavra: Vontade.

Não importam afinidades, fluências verbais, atração física avassaladora ou oportunidades, não há forma da distância entre duas pessoas ser vencida, que não pela vontade real de ir além dela. Duas pessoas podem querer-se muito por toda sua vida e jamais estarem juntas, porque nenhuma deu o primeiro passo. Ou pior ainda, sempre haverá aquele que verá uma pessoa de modo especial,  mas pelo medo de apegar-se toma curvas e curvas, envolve-se em outros casos e acaba por evitar o contato, a afeição e a presença com quem, no fundo, gostaria de compartilhar. 

Vejo um monte de artigos que nomeiam os relacionamentos relâmpagos atuais como "casos miojo", onde ninguém se aprofunda, realmente se liga. Tudo é inconstante, perene, frágil. E ao menor sinal de um "peixe mais atraente na rede", cultivam-se desaparecimentos, frases monossilábicas e términos repentinos. As pessoas não cultivam mais certas emoções e sensações, ora por receio, mas em grande parte dos casos por falta de vontade. Preferem gastar horas no whats trocando de paquera em paquera e não fixar-se em ninguém, flertar quando já estão com alguém que, em tese, gostam. Trair como se fosse algo natural. 

Nessas horas, me sinto estranha. Esse mundo e essa lógica contemporânea de relacionar-se não me soa atraente. Ela me soa superficial e irritante. Como dezenas de outras coisas que acontecem por ai e todo mundo acha convencional e normal. O cenário moderno, por vezes me encanta, por vezes me alarma. Ver pessoas na rua preferindo tirar fotos de uma pessoa acidentada, ao invés de ajudá-la me causa repulsa. A forma como as pessoas mentem, tal qual como respiram, me da vontade de vomitar. 

Voltando a nossa reta e os dois personagens dessa história. Sim, eu ainda sonho com flores e mensagens de bom dia e boa noite. Com gargalhadas trocadas e manhãs compartilhadas. E talvez um dia, entrar de branco, verde, azul ou qualquer que seja a cor em direção a quem eu vá me casar. Porque ainda acredito em relacionamentos duradouros. Porque ainda acredito em todas as formas possíveis de apoiar-se e de criar-se uma família. 


Boa semana a todos ;**




sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Une histoire

Na beira da estrada, declama a bruxa anciã aos passantes:

Tolo é aquele que busca saciar sua sede em um poço estéril 
onde a terra a sua volta já não floresce
onde a água já não flui ou preenche as mãos que a buscam
só corações frios, outrora pulsantes
que afogam-se e se calam diante de um fundo turvo

Aproxima-se ludibriado 
certo espírito sedento
e ao ver a ilusória taça de afeto ofertada
logrado seguindo a quimera ao poço árido, 
sem esmero ou estima
prontamente enfeitiçado

Boca seca, verso curto 
sem grande ânimo ou contento 
no limiar tímido do silêncio
onde irrompem-se as gargalhadas 
no vazio onde a bruxa perdeu tua ternura

Agora repouso e escrevo, 
na cavidade em pedra e fundura
e as palavras dela ainda ressoam
junto ao feitiço da minha ardilosa quimera 
astuciosa fora ela 
que aqui me deixastes e partiu enaltecida?
ou perdeu-se tanto a ponto de eternamente inverídica se tornar?

domingo, 27 de setembro de 2015

Por um punhado de mágica

Sob um céu docemente iluminada
no eclipse que encontra a lua ensanguentada
vertem-se as forças da peregrina
que agora fraqueja cansada

com sementes de maça, um de pouco rosa e jasmim
com canela e em água banhada
silenciosamente descem as lágrimas
da poeta que outrora já fora amada

No canto da coruja abaixo do céu levemente nublado
com gotas de alfazema, sálvia e laranjeira 
clareia a este coração infante e fraquejado
do encanto escrito em versos entoado

E no leito em que pouso minhas apreensões
não desejo mais essa pálida presença a me abraçar
quando no sustentáculo celestial retorna a donzela branca
que a égide deste feitiço  possa me arrebatar


terça-feira, 22 de setembro de 2015

Estrelas do Mar



Aprendi que há mais promessas de paixão não concretizadas,
 que ondas a quebrar nas areias.
E que tantas são as confissões e suspiros de desejos não consumados, 
que mesmo alinhando todas as conchas trazidas pelo mar 
não será possível definir a extensão de quando dois corpos se atraem.


Pode tu caminhar pela imensidão da praia 
e somente deparar-se com conchas e ondas a esmo...
ou pode, enquanto coleciona fragmentos de sentimentos 
e momentos rasos deixados pelo oceano
deparar-se como uma estrela do mar, singular e adorável... 
e ao findar, aconchegá-la ao peito,
cantando em pensamento melodias de alegria
clamando por um novo sentimento que se forma
ao qual outros nomearam
amor






domingo, 20 de setembro de 2015

Ávida por você

Essa minha pele anda sedenta
insaciável por toque e calor 
com um inevitável querer 
quando penso em certos beijos, 
em certa boca...

Na sinuosidade de um corpo
me perco em pensamentos insistentes 
na voz rouca que me chama bela
no encontro das lembranças que me tentam
no percorrer das mãos que me deleitam

E nessas turbulentas sensações 
em que vagueio
despida de zelo e brio
Essa minha pele ainda sedenta
me conduz em pequenos devaneios
ao a cabeça tocar o travesseiro 


quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Allegro ma non troppo

No alinhamento dessa pauta 
brota sinuosa melodia 
nascida ao valsar de seus dedos
para além do marfim ébano e alvo
sob a mogno tocado em zelo

Nesse dissonante crescendo
alinhai-vos a afinação por teus gestos versados
A um certo cantar pontuado
Pulsando em conjunto, 
em andante moderado

Rege a este uníssono, partido e unido
harmonizado e encantado 
encontras a nossa voz
agora, cânone delicado, 
no outrora passo desordenado




domingo, 13 de setembro de 2015

Sobretudo hoje

Poderia apagar com uma borracha, 
os rastros de sua estadia
tamanha a superficialidade com que passou
afinal, só deixastes rabiscos e esboços
pichados de modo descuidado
tracejados de sons e palavras com as quais me encantou

Se for para estar em mim, 

que penetre meus sentimentos
traga riso aos meus amanheceres 
grave profundamente sua presença
Entalhe e entrelace, evidentemente,
teu coração ao meu 





sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Tarde sem graça

Solidão, antiga amiga, 
Fala agora uma certa menina em busca de algo
Por acaso vistes um verso qualquer perdido a esmo
talvez uma parlenda, poesia, canção minimalista
fração de zelo esboçada em rima?

Ultimamente, as risadas e sensações me evitam
Tal qual o toque delicado e quente que anseio
Daqueles quem sinto falta, daqueles que me evitam
Então, me aconchego em si, no átrio do quarto sem cor
No silêncio barulhento dos meus próprios pensamentos

E no fim do paraíso verbal,
no paragráfo ainda finalizado em reticências
resta uma dúvida, dando voltas e voltas
voltando a tona a cada  adormecer e acordar:
Quando não sabemos se estamos bem ou não

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Aqui dentro, as estrelas brilham no céu

Chuvarada que cai, leve embora esse embevecer
esse ardor desnecessário
essa presença, agora insignificante
esse erro persistente e insistente, que não nos agrega em nada

Não consigo ver as estrelas lá fora, pois chove dentro de mim
Tenho estado sedenta, constantemente inebriada
em poesia, álcool e devaneio
de contentar-se com pouco, pelo menos um pouco, de qualquer sentimento

Voltei para onde sentia que não devia voltar
e nas palavras estáticas, apagadas repentinamente 
me reencontrei nos pingos que lavaram a minha alma
no cheiro da brisa...no som do mar revolto... do dia que nasce ...

Em algum lugar, aqui dentro de mim, as estrelas ainda brilham
bem no centro dessa carcaça mutável e deplorável
sob o céu ciano e as soturnas nuvens que cruzam o firmamento
Ao relento, num leito de pedra e areia, reencontro meu contentamento

Essa mortal, lavada e agora desperta
emocionalmente sentimental e não mais encantada
deixa o vento do litoral rasgar o confinamento
no alvorecer de novos acontecimentos. 



sábado, 5 de setembro de 2015

Nesta pedra tumular jaz o Quero te ver

No epitáfio do amor contemporâneo,
repetem-se as mesmas sensações e termos
deixa para lá, deixe para depois
é demais para mim agora, não tenho interesse
Acabei de terminar um relacionamento, 
ainda desejo outro, quero outras bocas por hora
Não sinto o mesmo que você

E nessa gangorra de supressão de quereres 
vamos perdendo, nos perdendo e nos afastando
Agora, laços são  como fraquezas
e estar junto, como dispensável
o calor das mãos unidas indesejado

E assim, toda paixão é passageira, 
segue-se em frente, sem olhar para trás
no raiar do outro dia, 
na cama desfeita
num caminho, 
sozinho