domingo, 27 de setembro de 2015

Por um punhado de mágica

Sob um céu docemente iluminada
no eclipse que encontra a lua ensanguentada
vertem-se as forças da peregrina
que agora fraqueja cansada

com sementes de maça, um de pouco rosa e jasmim
com canela e em água banhada
silenciosamente descem as lágrimas
da poeta que outrora já fora amada

No canto da coruja abaixo do céu levemente nublado
com gotas de alfazema, sálvia e laranjeira 
clareia a este coração infante e fraquejado
do encanto escrito em versos entoado

E no leito em que pouso minhas apreensões
não desejo mais essa pálida presença a me abraçar
quando no sustentáculo celestial retorna a donzela branca
que a égide deste feitiço  possa me arrebatar


terça-feira, 22 de setembro de 2015

Estrelas do Mar



Aprendi que há mais promessas de paixão não concretizadas,
 que ondas a quebrar nas areias.
E que tantas são as confissões e suspiros de desejos não consumados, 
que mesmo alinhando todas as conchas trazidas pelo mar 
não será possível definir a extensão de quando dois corpos se atraem.


Pode tu caminhar pela imensidão da praia 
e somente deparar-se com conchas e ondas a esmo...
ou pode, enquanto coleciona fragmentos de sentimentos 
e momentos rasos deixados pelo oceano
deparar-se como uma estrela do mar, singular e adorável... 
e ao findar, aconchegá-la ao peito,
cantando em pensamento melodias de alegria
clamando por um novo sentimento que se forma
ao qual outros nomearam
amor






domingo, 20 de setembro de 2015

Ávida por você

Essa minha pele anda sedenta
insaciável por toque e calor 
com um inevitável querer 
quando penso em certos beijos, 
em certa boca...

Na sinuosidade de um corpo
me perco em pensamentos insistentes 
na voz rouca que me chama bela
no encontro das lembranças que me tentam
no percorrer das mãos que me deleitam

E nessas turbulentas sensações 
em que vagueio
despida de zelo e brio
Essa minha pele ainda sedenta
me conduz em pequenos devaneios
ao a cabeça tocar o travesseiro 


quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Allegro ma non troppo

No alinhamento dessa pauta 
brota sinuosa melodia 
nascida ao valsar de seus dedos
para além do marfim ébano e alvo
sob a mogno tocado em zelo

Nesse dissonante crescendo
alinhai-vos a afinação por teus gestos versados
A um certo cantar pontuado
Pulsando em conjunto, 
em andante moderado

Rege a este uníssono, partido e unido
harmonizado e encantado 
encontras a nossa voz
agora, cânone delicado, 
no outrora passo desordenado




domingo, 13 de setembro de 2015

Sobretudo hoje

Poderia apagar com uma borracha, 
os rastros de sua estadia
tamanha a superficialidade com que passou
afinal, só deixastes rabiscos e esboços
pichados de modo descuidado
tracejados de sons e palavras com as quais me encantou

Se for para estar em mim, 

que penetre meus sentimentos
traga riso aos meus amanheceres 
grave profundamente sua presença
Entalhe e entrelace, evidentemente,
teu coração ao meu 





sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Tarde sem graça

Solidão, antiga amiga, 
Fala agora uma certa menina em busca de algo
Por acaso vistes um verso qualquer perdido a esmo
talvez uma parlenda, poesia, canção minimalista
fração de zelo esboçada em rima?

Ultimamente, as risadas e sensações me evitam
Tal qual o toque delicado e quente que anseio
Daqueles quem sinto falta, daqueles que me evitam
Então, me aconchego em si, no átrio do quarto sem cor
No silêncio barulhento dos meus próprios pensamentos

E no fim do paraíso verbal,
no paragráfo ainda finalizado em reticências
resta uma dúvida, dando voltas e voltas
voltando a tona a cada  adormecer e acordar:
Quando não sabemos se estamos bem ou não

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Aqui dentro, as estrelas brilham no céu

Chuvarada que cai, leve embora esse embevecer
esse ardor desnecessário
essa presença, agora insignificante
esse erro persistente e insistente, que não nos agrega em nada

Não consigo ver as estrelas lá fora, pois chove dentro de mim
Tenho estado sedenta, constantemente inebriada
em poesia, álcool e devaneio
de contentar-se com pouco, pelo menos um pouco, de qualquer sentimento

Voltei para onde sentia que não devia voltar
e nas palavras estáticas, apagadas repentinamente 
me reencontrei nos pingos que lavaram a minha alma
no cheiro da brisa...no som do mar revolto... do dia que nasce ...

Em algum lugar, aqui dentro de mim, as estrelas ainda brilham
bem no centro dessa carcaça mutável e deplorável
sob o céu ciano e as soturnas nuvens que cruzam o firmamento
Ao relento, num leito de pedra e areia, reencontro meu contentamento

Essa mortal, lavada e agora desperta
emocionalmente sentimental e não mais encantada
deixa o vento do litoral rasgar o confinamento
no alvorecer de novos acontecimentos. 



sábado, 5 de setembro de 2015

Nesta pedra tumular jaz o Quero te ver

No epitáfio do amor contemporâneo,
repetem-se as mesmas sensações e termos
deixa para lá, deixe para depois
é demais para mim agora, não tenho interesse
Acabei de terminar um relacionamento, 
ainda desejo outro, quero outras bocas por hora
Não sinto o mesmo que você

E nessa gangorra de supressão de quereres 
vamos perdendo, nos perdendo e nos afastando
Agora, laços são  como fraquezas
e estar junto, como dispensável
o calor das mãos unidas indesejado

E assim, toda paixão é passageira, 
segue-se em frente, sem olhar para trás
no raiar do outro dia, 
na cama desfeita
num caminho, 
sozinho



quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Um corpo trazido pelas águas

Choro pelo frágil menino, 
levado pelas nereides para seu eterno repousar
Choro pelo seu irmão, sem face e nome aos holofotes
e por sua mãe, que já não pode mais acalentar aos filhos

Choro por tantos futuros arrebatados
rasgados, mutilados e afogados
por homens fardados, hora em camuflado, ora em garbosas vestes
armados e alienados, ao corpo na praia ou o pai de família que cai em fome

Choro pelo dinheiro encharcado de ódio e cobiça
que manipula e move tantas marionetes que seguem
e o perseguem, sem questionar,
se os papéis e títulos compensam tantas vidas perdidas em vão

Choro pelo menino sobre a areia, de quem tudo foi tirado
e mais ainda, choro pela criança de arma na mão
que sobe o morro e ali fica, numa poça de sangue
jogado no chão.