quarta-feira, 21 de junho de 2017

Abro no fecho

Sou como uma fechadura
uma tetra de quatro voltas
para me trancar completamente
não é difícil, é relativamente simples
é só girar no sentido certo
a quantidade de vezes necessária

de certa forma, eu me fecho assim
um pouco, todos os dias
e uma parte de mim já não se importa
porque quem move a fechadura
é o mesmo que questiona
quando ela cerra por completo


Lá no fundo, uma parte de mim
queria manter a porta sempre aberta
mas a chave continua girando
quando estou lá pelo outro
mas para mim nunca estão
então, eu só sigo fluxo, ele me move
porque o abrir ou fechar, vai continuar

sábado, 17 de junho de 2017

Quando me disseram não

Quando me disseram que eu era desajeitada e pouco feminina, eu encontrei um universo onde era aceita com minha presença e força, e onde ser delicada não era tão necessário
Quando me disseram que eu não devia cantar, porque minha voz era estranha, eu não aceitei. Eu estudei e busquei caminhos, eu me expus e subi ao palco, tantas vezes quanto as necessárias para o encontrar meu próprio som, meu próprio timbre
Quando me disseram que eu não era bonita ou atraente, eu me cerquei de pessoas que me nutriram de carinho e mostraram que há varias formas de beleza e que algumas delas, estão dentro do peito e não em uma face
Quando me disseram que eu nunca seria nada, eu sofri, mas deixei as palavras me transpassarem. E num outro amanhecer, num outro, dia, elas já não machucavam mais. Eu cultivei meus sonhos e fundamentei meus objetivos passo a passo, enquanto outros diziam que não daria nada certo
Quando me disseram que eu jamais seria amada, que não, eu não teria um companheiro. Eu ri. Ri a ponto de gargalhar. Porque encontro uma contraparte de mim em cada livro em que me debruço. Em cada historia que destrincho e abraço. Em cada linha que escrevo, tenho uma companhia eterna e imaterial.
Nem todos os amores são feitos de carne e osso
Nem todas as vidas, são resumidas a alianças e um altar
E nesse vem e vai
quando me dizem que não posso chegar até lá
eu encontro um desvio pelo caminho
traço um rota e designo
que eu não pertenço mais a um lugar
afinal, além de onde estou, é sempre algo a almejar


segunda-feira, 5 de junho de 2017

Onde o medo vira coragem

Desde a metade do ano passado uma vontade poderosa estava emergindo em mim,
uma ânsia, uma força que me impelia a querer algo além do que eu tinha. E eu não entendia.
Não dava pra ter certeza do que estava acontecendo, só sabia que algo me incomodava e muito.
Ai coisas ruins aconteceram, em sequencia. E aquela vontade virou angústia, aperto no peito
meu corpo respondeu adoecendo, minha mente ficando confusa, o choro brotava fácil. 
E quando tudo estava se desenrolando e mais ou menos entrando em ordem, no inicio desse ano uma coisa muito ruim aconteceu. Eu fui vitima de algo que aos poucos estou contando, mas que nem todo mundo saberá. 
 Pensei me matar, Acabar com tudo. Desistir. Eu tive sorte, eu fui salva. Eu vivi e obtive apoio. 
Comecei tratamento com um profissional, todos os dias ao longo de semanas. Fiz exames, tive conversas. E no meio desse caos, aquela vontade que ficou nublada entre tanta coisa pesada, foi ressurgindo aos poucos. 
_____ O que você quer? ___ O que você fará por você? _____ Por quanto tempo você estará onde não se sente bem?

Perguntas e perguntas. Para além da "Ida irmã" que resolvia todos os problemas da casa. Ou da "Ida filha" que não sabia como construir uma ponte até o pai que sempre a tratava de forma ácida. 
E eu pode ver claramente e sentir. O caminho para fora de onde estava. A vontade de ir além que eu havia ignorado. Sair de onde eu havia me aprisionado. Deixar o medo fluir e as coisas acontecerem, 

Como se começa algo assim? sabendo para onde se deve ir. Confesso que eu não tenho a menor ideia de onde vou chegar com meus estudos, aulas, dança e bla bla bla. Porém uma resposta, um esboço de um cenário eu meio que já havia rascunhado entre as conversas que havia tido: eu queria um lar pra mim, um espaço meu. Não que minha antiga casa não o fosse.. mas ai tem uma carga antiga e sofrida que por hora, quero deixar pra lá. Ansiava por um outro lugar: outro teto, outras paredes e ares. 

Estamos aqui, eu, meu gato esquilo e um punhado de coragem. Casa nova, quarto arejado, uma amiga na porta ao lado. E vamos seguindo, ver no que vai dar

Vai que final, a resposta não estava só escondida em uma quina qualquer desse novo ponto de vista