terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Quando eu te incomodo

Por que te incomodas tanto
se minha barriga não é chapada?
ou se sou tão alta ou magra?
se sou despojada ou refinada? 

Por que te incomodas se tinjo 
meus cabelos de vermelho
ou se os deixo crespos
armados, lisos ou repicados?

Se minha pele tem rugas ou gravuras?
ou se pinto meus lábios de carmim ou não?
se escolho sair de short ou vestido 
te irrita saber que sou que nesse corpo vivo?

Se tenho alguns pares de furos na orelha
ou nenhum, talvez mais tarde, ou nunca
no que isso muda a minha alma, quando a relaciona
a se escolho um decote e assim, julga minha "laia"

Por que a cerveja em minha mão
incomoda mais que a minha aflição?
Quando a delicadeza das minhas unhas se tornou
mais relevante que o sorriso em minha face?

Por que te irritas se digo com veemencia
que não desejo um filho nem hoje, nem amanhã
ou se o desejo, mesmo que venha como mãe solo o criar
se danço ou não, qual a razão da sua exasperação; 

Eu só gostaria mesmo de saber
em que passagem dessa nossa maré diária
minha classe passou a ser julgada 
pelo comprimento da minha saia 

Afinal, por que te incomodas tanto
se eu questiono quando me julgas
quando assim o fazes todo o tempo
fazendo-me sentir só mais um produto em exposição

No fundo, só gostaríamos de poder dizer a cada menina
um dia, só por um dia: "não temas", "não chores e só viva"
contudo ainda estamos em uma eterna peleja contra essa
sociedade, que insistem em nos colocar em uma bandeja.










quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

As estrelas que me ouvem...

Sou um rascunho inacabado
de uma poesia rasa que me concebeu
emersa em danças de alegria
e estantes cheias de avaria, 
entre as quais meu eu cresceu
tantas vezes com medo adormecer
abraçando um ursinho ao orar baixinho
temendo o que poderia vir a ocorrer
sem saber como contar que doía

Deixando-se perder por dias, 
em histórias de luz e esperança
que nas páginas amareladas
eu pudesse cruzar a todos os mares  
transpondo o labirinto dos ventos
vencendo a todos os elementos 
com uma espada erguida nas mãos
e dormir enfim, em paz
sob as asas de um antigo dragão 

Dos meus desejos de infância
pouco resta a trazer a a realidade
pois descobri que a pequena leitora
em mim transformou-se em algo a mais
uma jovem sonhadora que vagarosamente
rescreve suas outroras tristes memórias
e aos poucos vai conquistando um laço
consigo mesmo, entre o agora e o sem fim
um espaço entre as estrelas e o além

Onde posso tudo esperar 
sem mais medo e frio a espreitar
onde eu sou suficiente, mesmo assim
mesmo que defeituosa e partida, que eu vá
entre um planeta, um menino e sua rosa
e uma constelação de canções de ninar
meu tear de poesia segue a criar 
minha tapeçaria de pequenos feitos 
que entalho no universo a me rodear 





sábado, 9 de dezembro de 2017

Dagaz

Verte esperanças na luz que retorna
a cada amanhecer 
a cada transformar-se em um novo ser
atada ao solstício que a de preceder
com grande luminosidade
o progresso da escuridão 
que não a tarda a te envolver


Despertada em tantos constastes
é chegada a hora de antever
que a mudança virá para ti 
mesmo sem querer 
equilibrando-se o assim
nas asas de uma borboleta
o verão após o casulo a crescer


Não temas o frio e o silêncio
ou os passos aos quais se deve ater
se enfim, desejas crescer
pois as estações vem e vão 
e nesse ciclo que em mim transcrevo
bordados em realidades que vejo
Dagaz me acompanha tal como meu sol
e também minha lua. 



quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Toda parte vivaz em mim


A imagem pode conter: 1 pessoa, em pé


Pois o vermelho, é puro e direto
o branco translucido, sincero
Nessas cores que vejo e quero
menos do negro me embebedo
E do carmim ao jasmim
Encontro outras de mim
Sempre versões com as quais
possa um pouco sorrir



Mi Manchi



Se eu disser que não sinto saudades 
estarei mentindo
ou tentando me enganar?
Se eu disser que já não me importo 
quando passa e não me olha
ou mais ainda quando preciso me acostumar
a notícias suas não mais ganhar


Se eu disser que seu abraço não faz falta
ou que teu beijo e cheiro ainda não voltam
à minha memória sorrateiramente
quão salsa eu soaria a mim mesma
e a realidade que me rodeia?
Se eu disser que não espero que volte
mesmo quando afirmasse tanto que não o faria


O que sei é que se dependesse só de sanidade
eu já teria passado tudo a limpo
rasgando todos esses rascunhos do meu espirito 
para nada sentir com tua proximidade ou não
para não mais tingir em vão colorido
as lágrimas manchadas de maquiagem 
que insistem em fluir 




A imagem pode conter: nuvem, céu, árvore e atividades ao ar livre

domingo, 3 de dezembro de 2017

Que este não seja meu último poema

Que este não seja meu último poema
pois o coração anda cansado
mas ainda pulsa 
pois a respiração por vezes ofega
 não da forma sensual que se espera
ela falha, aceleradamente me escapa 
porque a vontade de fazer rima
rema contra a maré de ansiedade
brota pelos dedos, rumo a ponta do lápis
e dentro da fumaça que verte pelo quarto
do incenso fumegante a vela que arde
afinal é o que dizem dos que escrevem
que o fio que nos mantém na sanidade
é fino e feito de tinta ou grafite
medindo-se em milímetros e palavras 
aforismos que muito de nós guarda
então eu clamo, em breves linhas 
como prece que disfarço de poesia aqui
Que este não seja seu único poema 
que está ai agora a esboçar enquanto ri
ou quando choras escondido, sozinho
quando acha que não a razão para se abrir
que este não seja nosso único poema
quando eu estou a ponto de cair
e só você me segura e confronta
mandando enxugar as lágrimas e prosseguir
Que este seja só o primeiro poema
de tantos outros que nós 
haveremos de juntos construir 
já que de fato se leu cada verso até aqui
uma parte de mim, já vive por ai 
dentro de ti. 


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