quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Seres sem face. Seres sem nome

Hoje me deparei com um homem
estirado no asfalto
no sol quente, ardido e aos farrapos
quase desnudado de pudor
e certamente, pelos outros
visto como algo sem valor

Despido mais que de roupas
de memórias, de sorrisos, de cor
nem como humano é mais tratado
à poeira e o cinza do concreto armado
ele há muito foi entregado
por si mesmo, pelos passantes
pelos que por sua vida passaram


Na avenida movimentada
de carros e gente que vem e vão
um homem ali largado
tentando talvez se manter são
ou sobrevivendo
mesmo sem nenhum pão
mas com vários dedos para si
inquisitoriamente apontados


Todos julgam teu passado
tuas escolhas, teu hoje, teu amanhã
todos desejam que ele e os 
que como tal por ali vagueiam
só desapareçam, sem se perguntar
que humanidade resta em nós
se o mal para este homem
constantemente você desejar
é tão fácil né? Só odiar por odiar


Hoje eu vi um homem 
na rua jogado 
não deve ter documentos
dinheiro, fotos ou abraços
E mesmo qualquer legado
no lixo deve estar emaranhado, 
Eu vi um homem
não um animal a ser acorrentado
vi alguém perdido dentro de si mesmo
que nem ao menos sabe se deseja ser encontrado


Eu vi um homem. 


Resultado de imagem para morador de rua arte


Um comentário:

  1. Realidade triste, cansei de passar aí pelas ruas vendo essas pessoas, eu assim como muitos movida pelo medo desejei varias vezes que eles não estivessem ali... 😔

    ResponderExcluir