domingo, 26 de novembro de 2017

Corpo

Minha pele é minha tela
Minhas formas, meu contorno
Relevo de quem sou,
parte que movo, não só um dorso
parte em que vivo 
por onde respiro e grito.

Meu corpo é meu santuário
mas também meu sarcófago
meu casulo e asas em um só
meu corpo é mais que um templo
és parte ínfima de um todo 
no que tange meu íntimo

Das pontas ressecadas do cabelo
já sem tanto brilho
as leves marcas escavadas na face
quando rio 
meu corpo que guarda meu espírito 
os sonhos que estimo 

Meu corpo que reverencio 
onde a memória tal como labirinto 
esculpida em mim entre atritos e risos
entrelaçando cicatrizes e furos
tatuagens e mundos 
sob as sardas e marcas que o dia-a-dia traça 


Minhas pernas que me sustentam 
que me erguem e a todo lugar levam 
meus braços que se entregam e carregam
meu corpo que sente, desde o ventre
que inflama-se com um beijo
extasia-se em pleno desejo 


Meu corpo  que sangra
que dança, que clama
da boca que devora e canta
a voz outrora renegada, que agora ama
meu corpo que vibra em sinergia com a vida
meu corpo e só 




Melancolia

Não me lembro mais quando foi a última vez
A última vez em que pude contar com alguém
que pude desabar e saber que alguém estaria por perto
que pude me sentir fraco e não me fingir de forte 
Não me lembro mais quando tive medo e alguém me acolheu
Quando chorei e alguém me aconchegou
quando precisei e fui atendida 
As vezes parece que sempre fui triste 
que sempre estive sozinha 
e toda memória feliz em mim não passa de engano
As vezes não me lembro, porque ainda penso que ha algo a lembrar






A valsa de fim de ano

As vezes eu quero que o ano acabe logo
Findem-se os dias
Os prazos, as horas
Como se no final desses 365 dias corridos
Eu possa logo encontrar algo
Pensando no que essa outra alvorada
Possa para mim alguma coisa revelar
O que não penso nessa situaçao
É que ao passar dos dias que faltam
Ao finalizar dos compromissos e causas
Que eu venham a desabar
Cansada da jornada
E mais nada
Entao so me resta um pouco de solidão
Mesclada com vontade e ambiçao
Que antes do estourar de fogos
Da enfim passagem daqui para la
Possa pelo menos embaixo das luzes do natal, descansar





domingo, 12 de novembro de 2017

A garota do sabado

Quero ser a garota do sábado
não a guria que você procura a esmo
quando te bate a vontade e esta a toa
quando encaixa na tua liberdade 
Percebo que é um hábito a vocês
distinguir quem chamas e quando o faz
mas sempre determinando 
que o sábado é um tipo de dia sagrado
e para a sua farra de bom grado
há exceções para quem tem do seu lado
É fácil fazer contato em meio ao limbo
da semana arrastada, do dia chato
quando se encontra entediado
e por acaso lembras de alguém 
com quem conversas e gostas de rir
eventualmente a quer para si 
contudo, não no sábado, jamais
esse é o dia para estar com outras 
ou simplesmente, para estar só consigo
e ninguém mais. 
Afinal, é sua farra, o ápice ta tua lábia
Nessa hora que percebemos 
que enquanto deixemos isso acontecer
sempre sentir, sem falar, sem se deixar gostar
vemos o quanto é chato,
meu sábado com você não poder compartilhar
e assim ter que nos acostumar, nos podar 
só com alguns momentos que escolhe
Conforma-se a poucas interações e sensações
porque de fato não há qualquer emoção
não há sentimento nessa relação
talvez seja hora de encerrar essa questão
pois se sinto que não se entrega
que não me leva em qualquer situação
não há porque só ser alimento pro teu ego
ser um mero entretenimento para ti
pelo menos agora eu entendo
que quem não está por inteiro
é porque na verdade não está em parte alguma
e eventualmente será como pássaro solto
me vendo com uma jaula e não ninho
indo e não retonando
deixando me para trás