sexta-feira, 19 de junho de 2015

Cinzelar

Eu, que apresento um coração rasurado
partido em porções desiguais, reduzidas a lascas
Eu, que procuro uma linha certa e a agulha suficientemente afiada, 
o ainda, ponto ideal para atar:
tantos rasgos, tantas frestas, tantos nadas
abertos, largados, deixados como sobras
de antigos risos e carícias, 
abraços e estima

Eu, autodeclarada como ser volúvel
emocionalmente entalhada pelas ventanias diárias 
da primavera morna como verão, outono congelado antes do inverno
Eu, que ambiciono ser aparada, um pouco mais sutilmente
lixada até que a marcas passadas...
percam-se em poeira e mais nada
sem mais farpas,
exposta e sem zelo

Eu, matéria prima já muito lacerada
manifestada pela ânsia,
de amar e ser amada
de ser, tal qual a madeira, recriada pelo escultor 
Eu, que tomo o cinzel e tracejo
busco a mão que o apoie, em contrapeso
e na canção e no gracejo
na ventania ou no bocejo
repousar, a casca aos poucos trabalhada
selando com um beijo




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