Hoje me chamo falta. Já fui em outros dias
nomeada de saudade. E num passado não tão distante, tinha um nome, ao qual não
me recordo mais. Venho nascida de lembranças antigas, todas soterradas em
negações e desalento. Estou a minguar pouco a pouco, desaparecendo.
Sinto que estou fadada a sumir, mas as vezes
me inflamo e fortifico, afloro, tal como os pássaros que migram em certas
estações e depois retornam ao lar. É como se os laços que me conceberam ainda
estivessem timidamente atados por fios tão finos, não tão nítidos a quem os
teceu.
Almejo que tal como os pássaros, que
eventualmente deixam o seu ninho, encontre o meu caminho. Renunciar este papel
de ausência que represento, ganhando asas e indo para outros lugares no
firmamento. Deixando para trás só o bater de asas e o alento que não há mais o
que preencher.
E como falta, outrora saudade, já chamada por
um nome agora escondido. Só que de tantas vezes ser solicitada para esquecê-lo,
já não sinto zelo em mantê-lo. Ainda sim, quando se deita e aperta seu peito,
trago-te fragmentos de sons e palavras ao seu leito. Porque ainda tenho em você
meu ninho e nesse berço, esse pássaro ainda insiste em repousar.