sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Pássaros



Hoje me chamo falta. Já fui em outros dias nomeada de saudade. E num passado não tão distante, tinha um nome, ao qual não me recordo mais. Venho nascida de lembranças antigas, todas soterradas em negações e desalento. Estou a minguar pouco a pouco, desaparecendo. 

Sinto que estou fadada a sumir, mas as vezes me inflamo e fortifico, afloro, tal como os pássaros que migram em certas estações e depois retornam ao lar. É como se os laços que me conceberam ainda estivessem timidamente atados por fios tão finos, não tão nítidos a quem os teceu. 

Almejo que tal como os pássaros, que eventualmente deixam o seu ninho, encontre o meu caminho. Renunciar este papel de ausência que represento, ganhando asas e indo para outros lugares no firmamento. Deixando para trás só o bater de asas e o alento que não há mais o que preencher. 

E como falta, outrora saudade, já chamada por um nome agora escondido. Só que de tantas vezes ser solicitada para esquecê-lo, já não sinto zelo em mantê-lo. Ainda sim, quando se deita e aperta seu peito, trago-te fragmentos de sons e palavras ao seu leito. Porque ainda tenho em você meu ninho e nesse berço, esse pássaro ainda insiste em repousar. 





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