sábado, 22 de agosto de 2015

Fala a poeta apaixonada à vela que se desfaz

Vós que conheceis as beiradas da minha alma
como pode afirmar que conheces o que a define?
Veja-a como uma vela, composta de cera e pavio: duas partes para uma unidade
Assim, como evidentemente pode falar do seu calor ou do seu brilho
quando só flertou com a gotas derretidas que pendiam dela
consumidas pelo calor do seu queimar?
Acabará por queimar-se ao tocá-las sem cuidado.

Como podes delinear os contornos de meus valores, quando tão pouco tem noção dos seus
Achas que pode, delimitar uma postura ao qual eu deva viver, de acordo com seus parâmetros?
Sou carne, sangue, experiências, sonhos: Força viva.
Teus dizeres e noções são somente seus
acordo e vivo, escrevo e re-escrevo: meu agora e meu amanhã
não em concomitância com os seus desejos: e sim, absorvendo o que me move e motiva

Vejo-me sim, como uma frágil chama diante de uma ventania a ponto de apagar-se
Porém, em pé diante das águas e correntes dos acontecimentos
permaneço, um dia a mais, horas prostrada, horas cansada
contudo sempre capaz de levantar-me, braços dados ou não
mãos entrelaçadas ou solitárias

Já disse eu, no passado, que somente passava a tela branco
 as palavras que incomodavam a minha mente, 
quando em verdade, a muito percebi: escrevo porque o instante existe,
porque a agonia irrompe e dilacera meus pensamentos, 
escrevo porque é possível viver com a dor de coração despedaçado

escrevo porque sou poeta
e um dia a mais que escrevo, cria um dia a mais para mim
quando deixo ir através do lápis
o que não pertence a minha unidade

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