Esta é minha primeira crônica. Ou pelo menos deveria ser.
Mas não tenho certeza do que ela
se tornou no final. Afinal, nem tudo que escrevemos torna-se o que gostaríamos
inicialmente. As palavras seguem um curso próprio e por vezes, debandam para
uma direção distinta da qual você pensava.
As pessoas costumam pensar no ato
de escrever como uma ciência exata, na qual alinham-se as parcelas feitas de
verbos, somam-se e subtraem-se trechos e voilà, tem um produto final, pronto
e definido. Trata-se de um ledo engano, porque pelo menos para mim o processo
em si nunca segue uma lógica plausível. Posso me empolgar e escrever páginas em
questão de minutos ou me ver presa a duas linhas incompletas pôr um dia todo,
podendo até abandona-las a esmo.
Nada realmente é completo: já
reescrevi alguns versos tantas vezes que uma ideia se metamorfoseou em outra
sem que nem tenha percebido.
Retornando ao princípio, as vezes
buscando nos conectar a alguém, nos desconectamos do que realmente é relevante
nessa nossa vidinha mais ou menos.
E sabe quando me toquei nisso?
Quando certa manhã de sábado, sentada em um certo terminal rodoviário, estava a
passar o tempo em conversas virtuais com pessoas não presentes. Esperava a chegada
de um conhecido, quando uma jovem sentou ao meu lado com um bebe. Não deixei o
celular de lado para apreciar a visão daquela criança saudável e sorridente me
fitando curiosa. Muito menos levantei minha face o suficiente para ver o rosto
da cuidadosa mãe que acalentava sua cria. Continuei a tocar na diminuta tela,
enviando mensagens de gatinhos ou coisas do gênero, já nem me recordo mais.
Seria só mais uma espera
entediante por um colega que no final das contas, nem esperou. Seria só mais
uma desculpa para fuçar as redes sociais a esmo e mais nada. Exceto pelo fato
que senti uma mão me cutucando do nada e ao levantar meus olhos, dei de cara
com minha tia: Ela estava lá de pé, na fila em frente a mim a mais de 10
minutos me fitando, esperando para ver se o desastre de sobrinha aqui iria a
ver. É sim, fiquei vermelha como um pimentão e me adiantei a levantar e
cumprimenta-la devidamente.
Todavia como desgraça pouca é
lenda, o mico ainda não estava completo: a dita jovem mãe, que estava sentada
ao meu lado a um certo tempo, era nada menos, nada mais, que minha prima. Minha
prima que eu não via a uns 5 anos e que tinha seu colo era sua filhinha, que eu
nunca havia ido conhecer.
Em resumo dessa bagunça,
conversamos por algum tempo e logo o ônibus encostou. Sentamos a 3 juntas no
ônibus e de quebra, ainda revi um primo que está quase do meu tamanho e que da
última vez que vi, era só um bebe. Ou seja, na próxima, antes de enfiar a cara
na tela do celular e se desligar do mundo, deem uma boa olhadinha a sua volta:
você pode reencontrar alguém que está do seu lado e você nem irá ver. Ou
prevenir um assalto, vá saber.
E sim, sei que meu relacionamento
familiar não é dos melhores. Mais depois desse papelão, quando uma outra tia
minha me ligou, atendi no primeiro toque e não deixei cair mais na caixa de
mensagens...
Sair da toca, física e mental, as
vezes é um mal necessário...