segunda-feira, 20 de março de 2017

Uma pequena tela que por vezes nos limita

Esta é minha primeira crônica. Ou pelo menos deveria ser.
Mas não tenho certeza do que ela se tornou no final. Afinal, nem tudo que escrevemos torna-se o que gostaríamos inicialmente. As palavras seguem um curso próprio e por vezes, debandam para uma direção distinta da qual você pensava.
As pessoas costumam pensar no ato de escrever como uma ciência exata, na qual alinham-se as parcelas feitas de verbos, somam-se e subtraem-se trechos e voilà, tem um produto final, pronto e definido. Trata-se de um ledo engano, porque pelo menos para mim o processo em si nunca segue uma lógica plausível. Posso me empolgar e escrever páginas em questão de minutos ou me ver presa a duas linhas incompletas pôr um dia todo, podendo até abandona-las a esmo.
Nada realmente é completo: já reescrevi alguns versos tantas vezes que uma ideia se metamorfoseou em outra sem que nem tenha percebido.
Retornando ao princípio, as vezes buscando nos conectar a alguém, nos desconectamos do que realmente é relevante nessa nossa vidinha mais ou menos.
E sabe quando me toquei nisso? Quando certa manhã de sábado, sentada em um certo terminal rodoviário, estava a passar o tempo em conversas virtuais com pessoas não presentes. Esperava a chegada de um conhecido, quando uma jovem sentou ao meu lado com um bebe. Não deixei o celular de lado para apreciar a visão daquela criança saudável e sorridente me fitando curiosa. Muito menos levantei minha face o suficiente para ver o rosto da cuidadosa mãe que acalentava sua cria. Continuei a tocar na diminuta tela, enviando mensagens de gatinhos ou coisas do gênero, já nem me recordo mais.
Seria só mais uma espera entediante por um colega que no final das contas, nem esperou. Seria só mais uma desculpa para fuçar as redes sociais a esmo e mais nada. Exceto pelo fato que senti uma mão me cutucando do nada e ao levantar meus olhos, dei de cara com minha tia: Ela estava lá de pé, na fila em frente a mim a mais de 10 minutos me fitando, esperando para ver se o desastre de sobrinha aqui iria a ver. É sim, fiquei vermelha como um pimentão e me adiantei a levantar e cumprimenta-la devidamente.
Todavia como desgraça pouca é lenda, o mico ainda não estava completo: a dita jovem mãe, que estava sentada ao meu lado a um certo tempo, era nada menos, nada mais, que minha prima. Minha prima que eu não via a uns 5 anos e que tinha seu colo era sua filhinha, que eu nunca havia ido conhecer.
Em resumo dessa bagunça, conversamos por algum tempo e logo o ônibus encostou. Sentamos a 3 juntas no ônibus e de quebra, ainda revi um primo que está quase do meu tamanho e que da última vez que vi, era só um bebe. Ou seja, na próxima, antes de enfiar a cara na tela do celular e se desligar do mundo, deem uma boa olhadinha a sua volta: você pode reencontrar alguém que está do seu lado e você nem irá ver. Ou prevenir um assalto, vá saber.
E sim, sei que meu relacionamento familiar não é dos melhores. Mais depois desse papelão, quando uma outra tia minha me ligou, atendi no primeiro toque e não deixei cair mais na caixa de mensagens...
Sair da toca, física e mental, as vezes é um mal necessário...





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