Por que te incomodas tanto
se minha barriga não é chapada?
ou se sou tão alta ou magra?
se sou despojada ou refinada?
Por que te incomodas se tinjo
meus cabelos de vermelho
ou se os deixo crespos
armados, lisos ou repicados?
Se minha pele tem rugas ou gravuras?
ou se pinto meus lábios de carmim ou não?
se escolho sair de short ou vestido
te irrita saber que sou que nesse corpo vivo?
Se tenho alguns pares de furos na orelha
ou nenhum, talvez mais tarde, ou nunca
no que isso muda a minha alma, quando a relaciona
a se escolho um decote e assim, julga minha "laia"
Por que a cerveja em minha mão
incomoda mais que a minha aflição?
Quando a delicadeza das minhas unhas se tornou
mais relevante que o sorriso em minha face?
Por que te irritas se digo com veemencia
que não desejo um filho nem hoje, nem amanhã
ou se o desejo, mesmo que venha como mãe solo o criar
se danço ou não, qual a razão da sua exasperação;
Eu só gostaria mesmo de saber
em que passagem dessa nossa maré diária
minha classe passou a ser julgada
pelo comprimento da minha saia
Afinal, por que te incomodas tanto
se eu questiono quando me julgas
quando assim o fazes todo o tempo
fazendo-me sentir só mais um produto em exposição
No fundo, só gostaríamos de poder dizer a cada menina
um dia, só por um dia: "não temas", "não chores e só viva"
contudo ainda estamos em uma eterna peleja contra essa
sociedade, que insistem em nos colocar em uma bandeja.
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